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IA: O Deserto do Realmente Inútil

Foto de um deserto

Campos de areia. Por Oday Hazeem via Pexels.

Lembram-se da promessa? Não faz muito tempo, a IA era a resposta para tudo. Um futuro brilhante, eficiente e hiper-personalizado, onde assistentes digitais antecipariam nossas necessidades e resolveriam nossos problemas com a elegância de um mordomo britânico. A promessa era de clareza. O que recebemos, na maioria das vezes, foi um porteiro eletrônico com amnésia.

Hoje, vivemos a grande ressaca da IA. A tecnologia, que deveria nos libertar de tarefas tediosas, nos aprisionou em novos labirintos de frustração. O principal culpado tem nome e um sorriso digital plastificado: o chatbot inútil.

Ele é o convidado indesejado em quase todos os sites e aplicativos. Surge no canto da tela, oferecendo uma "ajuda" que raramente ajuda. Tentar resolver um problema real com um desses chatbots é como gritar instruções para um aparelho de som na esperança de que ele peça uma pizza. Você formula sua pergunta de todas as maneiras possíveis, simplifica a linguagem ao nível de um telegrama, e a resposta é invariavelmente uma variação de: "Não entendi. Que tal um artigo da nossa FAQ sobre como limpar seu cache?".

O problema não é a inteligência artificial. O problema é a inteligência corporativa — ou a falta dela. Na corrida para cortar custos e parecer inovadora, uma legião de empresas instalou a versão mais barata e mal configurada de um sistema de automação, colocou uma foto de banco de imagens de uma pessoa sorridente e chamou isso de "experiência do cliente".

Não é uma experiência. É um obstáculo. É a digitalização do "fale com a parede". É uma barreira deliberadamente construída para impedir que você, o cliente, chegue ao recurso mais caro e eficiente de todos: um outro ser humano.

Mas a ressaca vai além do mau atendimento. A praga da mediocridade se espalhou para o conteúdo. A internet, que já lutava contra a desinformação, agora enfrenta um tsunami de conteúdo morno e sem alma, gerado por IA. São artigos de blog escritos para agradar a um algoritmo, não para informar uma pessoa. São imagens que têm a estética perfeita e a emoção de um manequim. É o ruído branco digital, preenchendo cada espaço com variações da mesma coisa, otimizadas para cliques, mas vazias de significado.

Estamos nos afogando em um oceano de conteúdo "ok". Suficientemente bom para existir, mas totalmente esquecível. A IA generativa se tornou uma máquina de clonar o mediano, e o resultado é uma paisagem digital cada vez mais homogênea e desinteressante. A criatividade, que deveria ser potencializada, corre o risco de ser diluída em uma média estatística do que já foi feito antes.

Então, onde isso nos deixa? Cansados. Céticos. Com uma crescente "fadiga de IA". Estamos aprendendo a identificar os padrões, a desconfiar da perfeição sintética e a valorizar, mais do que nunca, o que é genuinamente humano: a falha, a surpresa, a opinião com arestas, a empatia real.

A ironia final é que, ao tentarem substituir a interação humana para economizar, as empresas estão tornando essa mesma interação um artigo de luxo. Em breve, "falar com um humano" será o novo serviço premium.

A solução não é um ludismo digital, mas um chamado à responsabilidade. À artesania. É hora de parar de usar a IA como uma desculpa para oferecer serviços piores e conteúdo mais pobre. É hora de usá-la como a ferramenta que deveria ser: um bisturi para resolver problemas específicos, não uma marreta para demolir a ponte entre empresas e pessoas.

Porque no final do dia, nenhuma quantidade de processamento de linguagem natural pode substituir a simples e poderosa experiência de ser genuinamente ouvido e compreendido. A promessa da IA ainda pode ser real, mas primeiro, precisamos acordar desta ressaca e exigir algo melhor do que um mundo digital abarrotado de coisas brilhantes e fundamentalmente inúteis.